09/12/2011

Acrianos viajam até 700 km para conhecer 1º shopping do estado


Idosa de 73 anos vira fã de centro de consumo.
Ar condicionado e entretenimento são atrativos, segundo a população.

Gabriela GasparinDo G1, em Rio Branco

Aos 73 anos, a aposentada Deuzuíla Arruda de Souza, moradora de Rio Branco, pensava já ter visto de tudo nesta vida, até a inauguração, no início de novembro, do primeiro shopping center doAcre.

“Nunca tinha ido a um shopping antes. Eu fiquei muito feliz. É uma alegria”, conta a acriana que, desde a abertura do centro de compras, já visitou o local cinco vezes.
Com quase 340 mil habitantes, a capital do Acre foi uma das últimas do país a receber um shopping – ficando atrás apenas de Macapá, cuja previsão é de inaugurar o primeiro em 2012, e Boa Vista, sem um projeto concreto, de acordo com a Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce).
(Observação: "acriano" é com "I", de acordo com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.)
Deuzuíla Arruda de Souza, de 73 anos, com filhas e neta no shopping de Rio Branco (Foto: Gabriela Gasparin/G1)Deuzuíla Arruda de Souza, de 73 anos, com filhas e neta no shopping de Rio Branco (Foto: Gabriela Gasparin/G1)


A chegada do empreendimento à cidade do extremo norte brasileiro mudou a rotina não só da vida de Deuzuílda, mas como na de grande parte da população local. No dia da inauguração, cerca de 40 mil pessoas visitaram o Via Verde Shopping, estima a Landis Shopping Centers, empreendedora, administradora e comercializadora. No primeiro mês de operação, foram 400 mil visitantes.
Comparativo de shoppings (Foto: Editoria de Arte/G1)
“Eu não levei minha mãe no primeiro dia porque tinha muita gente. Deixamos para ir depois. Agora, às vezes eu estou trabalhando e ela me liga pedindo: ‘vamos no shopping hoje?’. Quando eu chego, ela já está arrumada”, afirma a comerciante Sônia Arruda, de 30 anos, filha da aposentada.
“Antes eu ficava em casa assistindo televisão, assistia novela, hoje prefiro vir para o shopping (...). A gente sente paz aqui, tranquilidade, é um clima muito bom. A gente vê tantas coisas novas, tantas novidades”, diz a mãe.
As "coisas novas" às quais se refere a aposentada são citadas por muitos frequentadores e vão desde a possibilidade de encontrar várias lojas num só lugar, com a comodidade de ter ar condicionado e deixar o carro no estacionamento, até a chegada de grandes redes até então inexistentes no Acre, como Renner, Riachuelo e Americanas - a Marisa também abriu loja no local, mas já tinha outra no centro da cidade.
As novidades são tantas que pegam alguns acrianos de surpresa, como Maria José Lopes do Nascimento, de 48 anos, que chegou a confundir um manequim de loja com uma pessoa. "Eu estava na Riachuelo. Quando a gente entrou, eu esbarrei nele [manequim] e voltei para pedir desculpas. Aí, um colega que estava do meu lado de risada. Só então eu percebi que era um manequim (...) eu já tinha visto manequim antes, mas esse estava muito bem arrumado, muito bem vestido, parecia uma pessoa."

Tais motivos fizeram com que Eutália Figueiredo de Souza, de 46 anos, sair da cidade de Cruzeiro do Sul, a segunda maior do Acre, e viajar cerca de 700 quilômetros de ônibus na quinta-feira (8) com seus dois filhos pequenos para conhecer o shopping. “Fiquei encantada com essa maravilha. Foi muito bom, a cidade precisava há muito tempo já”. Eutália revela que nas férias de janeiro já pensa em voltar para fazer compras nas grandes redes. “[O ambiente] climatizado é maravilhoso (...). Com um calor desse, vou fazer em casa o quê?”.

O ar condicionado inclusive é citado pelo empreendedor do shopping, Dorival Regini, como um dos atrativos do público ao novo centro de compras. Com clima abafado, não é difícil encontrar temperaturas beirando os 40 graus na cidade.

Entretenimento

O entretenimento e o lazer, além das lojas âncoras – grandes redes que representam as principais lojas do shopping – também são citados por ele como atrativos. Com essas apostas, o investimento no empreendimento foi de aproximadamente R$ 140 milhões - cerca de metade do valor por parte dos lojistas.
Os irmãos Adeyzilano e Matheus Mesquita de Oliveira já foram quatro vezes ao cinema do shopping (Foto: Gabriela Gasparin/G1)Para os irmãos Adeyzilano e Matheus Mesquita de
Oliveira, o cinema é a principal atração do
shopping (Foto: Gabriela Gasparin/G1)
Com exibição de filmes em 3D, algo inédito na cidade, o cinema é, de fato, a grande atração do shopping – Rio Branco tem um cinema, mas não nos mesmo padrões. Com a nova opção de lazer, a analista de controle Lucinete Leite, de 40 anos, já foi algumas vezes seus três filhos no local. Depois da inauguração, uma delas, Isla Leite, de 17 anos, disse que já assistiu filmes no local umas seis, sete vezes.”

“Não tem muito o que fazer na cidade e o shopping melhorou o dia a dia de todo mundo”, afirma a estudante Kássia Nemesis, de 20 anos, que também foi com um grupo de amigos ao cinema. Uma das amigas de Kássia, Pryscila Nobre, afirmou que já foi cinco vezes ver filme no shopping desde que abriu. Um outro amigo, Igor Guimarães, já foi cerca de dez vezes ao shopping, três delas para ir ao cinema.
O Cine Araújo investiu aproximadamente R$ 5 milhões na instalação de quatro salas de cinema com capacidade total para quase 1100 lugares.  O sócio-diretor Marcos Araújo disse que a previsão do cinema é receber cerca de 400 mil pessoas por ano. “Sempre teve demanda, o único problema de não ter cinema foi por não ter shopping”, avalia. “Vai mudar o hábito da população. O cinema já esta sendo grande motivo para as pessoas visitarem o shopping. O shopping das cidades pequenas hoje virou a praça de antigamente, é onde as coisas acontecem”, sugere.

A opinião do empresário é compartilhada por Kassiane Pinho dos Santos, de 18 anos, uma das amigas de Kássia. “A moda agora é falar que está no shopping. No Facebook o que mais se fala é do shopping”, diz.

Sem escada rolante

Se de um lado o novo empreendimento é louvado por muitos dos frequentadores que nunca haviam visto um shopping na vida, outros que já conheciam outros shoppings, ou até mesmo esperavam mais de um, se queixaram do tamanho do empreendimento.
Eutália Figueiredo de Souza, 46, com os filhos Vitória, 10, e Davi, 8, são de Cruzeiro do Sul, a 700 km e Rio Branco (Foto: Gabriela Gasparin/G1)Eutália Figueiredo de Souza, 46, com os filhos
Vitória, 10, e Davi, 8, são de Cruzeiro do Sul, a
700 km e Rio Branco (Foto: Gabriela Gasparin/G1)
A principal reclamação dos acrianos é em relação à inexistência de escada rolante no local, que tem apenas um piso. “Para mim não é um shopping, é uma galeria bem grande”, sugere o atendente Adyzilano Mesquita de Oliveira, de 19 anos.

“Já fui no shopping de Porto Velho, é muito lindo. São três andares e o terceiro andar é só cinema (...) Mas ainda vai melhorar, tem lojas para abrir”, diz. O shopping foi inaugurado sem todas as lojas estarem em funcionamento.

“Já vi shopping na TV com dois pisos, com escada rolante. Esperava que aqui teria”, afirma Rosineide dos Santos, de 30 anos.

A cobradora de ônibus Cristiane da Silva Barros, de 23 anos, também esperava encontrar ao menos dois andares no shopping. “Não tem nem escada rolante”, diz.
Outra questão que tem incomodado os acrianos é o fato de o shopping ter passado a cobrar o estacionamento.

"Antes não precisava pagar, agora tem. É um absurdo ter de pagar R$ 3 para deixar o carro no shopping. E eles ainda cobram R$ 1 a cada hora adicional. Ninguém vai no shopping para ficar só uma hora", afirmou.

De acordo com a administradora do shopping, contudo, já estava programado que o estacionamento passaria a ser cobrado depois da fase de inauguração, por conta dos custos operacionais.

Linha de ônibusCristiane, inclusive, trabalha em uma das duas linhas de ônibus criadas pela prefeitura apenas para atender aos visitantes e trabalhadores do shopping. O ponto final é dentro do próprio estacionamento do empreendimento.

De acordo com a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito de Rio Branco (RBTrans), até a primeira semana de dezembro já haviam sido registrados mais de 15 mil passageiros, o que é considerada pela RBTrans a melhor procura em uma nova linha. “Tem horas que até eu vou em pé”, brinca o motorista de um dos ônibus, José Jaunes de Andrade, de 26 anos. Andrade, por sua vez, nunca colocou os pés no shopping, apesar de todos os dias levar e trazer passageiros ao estacionamento do local. “Nunca tive tempo”, afirma.
Praça de alimentação do primeiro shopping de Rio Branco (Foto: Gabriela Gasparin/G1)Praça de alimentação do primeiro shopping de Rio Branco (Foto: Gabriela Gasparin/G1)
Também motorista de uma das linhas, Edson da Cruz, de 45 anos, disse que já levou a família para conhecer o novo "point" da cidade. “Nunca tinha ido num shopping. Trouxe minha esposa e meu filho, é muito interessante, gostei bastante”, disse.
Luis Marinho, professor do núcleo de varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e especialista em marketing voltado para shoppings, diz que é comum a chegada de um shopping mexer tanto com um município.

“A chegada de um shopping é um acontecimento para uma cidade. É como um upgrade no status da cidade, que quer entrar na era do consumo. Existe essa relação de progresso”, avalia.

Tal associação com o ‘progresso’ é citada por muitos dos agora frequentadores do shopping de Rio Branco, entre elas a aposentada Deuzuíla, aquela que conheceu o shopping pela primeira vez aos 73 anos. “Antes era muito diferente. Era assim, supermercado muito pouco, distante para ir em qualquer um. Os hospitais, tudo era mais difícil. A saúde, educação. Hoje não, tudo é amplo”, opina
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